Recebi esta entrevista por email, da minha querida professora Maria Aparecida (www.mediunidade.com) e resolvi colocá-la aqui porque achei deveras interessante. Espero que gostem!
Entrevista psicóloga Cleide M. Canhadas
publicado em 31/março/2011 por Neri Alves Quadrado
Transcrição entrevista da psicóloga Cleide Martins Canhadas para a revista PLANETA que obteve um mestrado em ciência da religião defendendo na PUC-SP, uma tese sobre cura espiritual.). Na entrevista a seguir, ela mostra o resultado das suas pesquisas.
A BUSCA DA CURA ESPIRITUAL
PLANETA – No final do ano passado você publicou o livro “A eterna busca da cura” (Boa Nova Editora), a qual teve como tese que defendeu na PUC-SP em 1999. O que a levou a estudar essa tese?
CLEIDE:- Foi uma questão pessoal. Eu tive um tumor renal que foi considerado maligno e, por causa disso, perdi o rim esquerdo. Quando o médico me deu o diagnóstico e me disse que o tumor tinha dois anos, eu imediatamente o relacionei a uma situação de estresse emocional forte que havia vivido. Diante desse fato, eu me perguntei como a gente pode causar isso ao próprio organismo e resolvi procurar uma terapia. Eu já era espírita há muitos anos e achei que só poderia ser ajudada por alguém que compreendesse o espiritismo. Procurei, então, a terapeuta Julika Kiskos que eu já tinha visto fazendo palestras, e comecei uma terapia com ela. A Julika me recomendou que eu lesse um livro do doutor Lawrence de Shan, ‘O CÂNCER COMO PONTO DE MUTAÇÃO (Sunways Editorial) o qual realmente transformou a minha compreensão da doença. Eu entendi por que aquilo tinha acontecido comigo e o que ocorria com as pessoas, de modo geral, em termos de doenças psicossomáticas. Como na PUC eu tinha conhecimento do programa ciências da religião, eu pensei: “Está aí uma questão que deve ser estudada de uma forma mais disciplinada, sem que isso seja visto como fantástico, maravilhoso, mas que se entenda o que está por trás de um acontecimento como esse. “Ao mesmo tempo, eu comecei a freqüentar o Grupo Noel. E, tanto lá como em outros locais, eu já percebia que muitas pessoas buscavam ajuda para seus problemas de saúde nos centros espíritas.
PLANETA – Isso refletiria uma falta de confiança na medicina moderna?
CLEIDE – Essa era a minha indagação. Com uma tecnologia tão avançada, será que a medicina não consegue fazer um diagnóstico do problema da pessoa? Então, na tentativa de entender isso, fui fazendo questionários para os freqüentadores do Grupo Noel. Mas percebi que os diagnósticos são perfeitos, os médicos são capazes de diagnosticar com muito acerto os problemas de saúde. A dificuldade está no tratamento, na forma como eles encaram a doença. A maioria, pelo menos, ainda a vê como uma questão meramente física e fisiológica, tratando não do doente, mas da doença, desconectada da história de vida da pessoa. Esse sistema é que não dá mais conta. Eu percebi que as pessoas buscavam muito mais do que um alívio para sua dor de cabeça; elas queriam entender o porquê daquela dor, queriam saber o que estava acontecendo com elas. Assim, fui descobrindo, lendo Jung…
PLANETA – Você chegou a fazer psicologia?
CLEIDE – Eu sou pedagoga e fiz pós-graduação em psicologia social. Sempre gostei da psicologia de grupo e tive a chance de conhecer Pichon Rivieri, um psicanalista argentino que tratava muito de grupos operativos e via a doença como “bode expiatório”. Segundo ele, uma doença aparece na família como expressão do problema do grupo. Assim, uma pessoa doente não pode ser tratada isoladamente de suas questões familiares porque expressa algo que não vai bem. Isso eu fui associando a Jung, aos trabalhos do dr. Le Shuan. Que por mais de 40 anos fez pesquisas com doentes terminais… Ele foi identificando que a maioria dos casos de câncer, 78% tinha início a partir de uma questão emocional de forte estresse. Para a maioria das mulheres, isso ocorre a partir de uma perda efetiva, do companheiro, ou dos filhos que crescem, vão embora e não precisam mais da mãe. Para o homem, o câncer está associado à perda de potência – perda do emprego, da capacidade sexual. Em geral, o câncer da próstata está ligado à época da aposentadoria.
Ao mesmo tempo, eu me perguntava por que os centros espíritas, as igrejas, mesmo as evangélicas e as carismáticas, apresentam uma forte procura. Eu fui, então, buscar ajuda em ciências da religião. Se é a religião que de alguma forma ajuda o homem nessa situação, o que ela oferece? Segundo Henrique Vaz, filósofo e teólogo católico, a religião dá um sentido para a sua existência. Na medida em que redescobre esse sentido, que tem uma explicação, mesmo momentânea, a pessoa se prende a alguma coisa e readquire esperança.
PLANETA – Jung pedia aos pacientes que voltassem aos seus cultos de origem…
CLEIDE – Exatamente, que voltassem a fazer alguma coisa que lhes desse prazer, inclusive, algo que fizesse sentido para eles. Quando a pessoa volta, descobre que deixou de fazer muitas coisas por obrigação, por contingências; para a sua sobrevivência, acabou abrindo mão de muitas coisas que lhe davam prazer e satisfação.
PLANETA – Toda a sua pesquisa foi feita no Grupo Noel. Qual foi a porcentagem de cura que você encontrou entre os freqüentadores do centro?
CLEIDE – Cerca de 87% das pessoas me diziam que tinham encontrado algum tipo de melhora no tratamento espiritual. Então, eu pedi para dimensionarem de quanto era essa melhora – uma melhora definitiva, por pouco tempo ou a cura total da doença. Mais de 70% das pessoas tiveram grande melhora e a cura definitiva do problema. Procurei verificar também quais fatores, no entendimento delas, levaram a essa melhora. São vários os fatores que interferem, como a Fé.
PLANETA – Esse seria o principal fator?
CLEIDE – As pessoas dizem que sim. Mas os pesquisadores, que trabalham até com plantas e animais, questionam isso. Na verdade, eles afirmam que a cura é possível mesmo que a pessoa tenha fé, mas o curador, o médium que transmite energia, e as pessoas que estão à volta do doente tenham fé –no sentido de uma autoconfiança e uma forte concentração de energia – .
PLANETA – Isso mostra a necessidade de se ter um grupo harmônico de passistas trabalhando...
CLEIDE – Sim, é preciso que estejam todos concentrados num mesmo ponto, num mesmo ideal. Quando o dirigente pede para os médiuns mentalizarem uma determinada cor que é benéfica para aquele órgão – como acontece no Grupo Noel – e todos conseguem fazê-lo. A energia é canalizada, ela não fica esparsa. Se, ao contrário, cada um pensar numa cor e num órgão diferentes, ou se preocupar com o semblante do assistido, a energia se dispersa.
Curiosamente, a gente conversa com pessoas que vão procurar, ajuda num centro espírita e elas dizem: “Vim aqui porque a minha amiga me trouxe. Eu mesma não tenho força nem mais esperança. “Mas a amiga tem. Ou seja, quando se sente pertencendo a um grupo, sabe que tem mais gente que se solidariza com ela, de alguma forma a pessoa relaxa, distensiona aqueles canais que estavam bloqueados…
PLANETA – Nesse caso é muito importante que o grupo dê um substrato teórico a respeito daquele tipo de espiritualidade. No caso do Grupo de Noel, é o Kardecismo…
CLEIDE – Eu acredito muito nisso. Creio que as palestras, a literatura espírita, que tem um corpo teórico bem fundamentado e justifica aquele tipo de trabalho, são muito importantes. O espiritismo mostra em que momento a pessoa tem de fazer a sua parte, a sua reforma íntima, e ela começa a tomar conta da própria vida e a se conduzir dentro de outra perspectiva.
PLANETA – No caso da reforma íntima, ela começa a pensar sobre a sua maneira de agir, sentir, se tem muita mágoa, raiva …
CLEIDE – Ela vai descobrir que tem dor de cabeça toda vez que se depara com uma determinada pessoa, por exemplo, e começa a se perguntar o que gerou aquela situação. A partir daí, pode reformular a sua relação com o outro.
Esse tipo de ajuda, a literatura espírita tem para oferecer. São romances, histórias com explicações científicas, etc. Ao ler André Luiz, a pessoa vai compreender a questão encarnatória, o que veio fazer aqui – tudo isso vai lhe dando uma outra dimensão da vida. O que não acontece se ela se submeter a uma cirurgia espiritual, mediúnica. Por exemplo, alguém tira um tumor e fica bem fisicamente. Mas, se não tiver transformação a partir dessa experiência, terá outros tumores, outras doenças. Porque foi tirado o efeito e não a causa da doença, o que levou o indivíduo a ter aquele tipo de moléstia. A doença existe associada à sua história, ao seu passado, e tem como propósito ajudá-lo a enxergar coisas que ele não está vendo. Ela vem para chamar a atenção sobre o seu modo de vida.
PLANETA – O que diferencia o indivíduo que consegue se curar daquele que não consegue ? Muitas pessoas se curam de um câncer e outras não se livram de uma doença mais simples…
CLEIDE – O próprio Kardec perguntou isso para os espíritos. E eles responderam que, se ainda for necessário que a pessoa sofra mais para que possa se conhecer melhor, para que tenha outras experiências de amadurecimento espiritual, então ela não se livrará tão facilmente dessas questões.
Você vê pessoas passando por experiências incríveis e pergunta: “Isso não mexeu com você?” E a pessoa responde: “Não, não aconteceu nada dentro de mim.” Mas há outras que, por muito menos. Se transformam totalmente. Creio que é um problema de condição espiritual e o que aquela situação vai trazer para a pessoa.
PLANETA – Você nos contou que teve câncer de rim e conseguiu se curar. O seu filho, que tinha apenas 23 anos, teve câncer de abdomem e morreu. Na sua opinião, por que você conseguiu e ele não?
CLEIDE – O meu tumor tinha apenas dois anos e se manifestou. O médico disse que isso é raríssimo. Eu apresentei sintomas que me levaram a procurar ajuda médica – tive hemorragia na urina. Se eu não tivesse ido em busca de entender esses sintomas e, a partir daí, buscado compreender o que estava fazendo com as minhas emoções, com as minhas questões existenciais mais profundas e não tivesse me transformado, o tumor poderia ter reaparecido. Porque havia uma grande probabilidade dele voltar na bexiga, onde estava se iniciando. Durante seis anos fiquei fazendo acompanhamento. Só depois disso o médico disse: “Agora você está curada.” O que eu fiz nesse tempo?
Busquei uma compreensão psicológica para isso, uma mudança no meu modo de lidar com os problemas. Eu percebi que o rim era o meu órgão de choque, das emoções. Fiz terapia, fiz tratamento espiritual, fui estudar.
No caso do meu filho, quando obtivemos o diagnóstico, ele já estava com o abdomem totalmente tomado. Por que ele não teve um sinal? Por que não teve a chance que eu tive? Foi aí que eu descobri uma coisa muito importante: a cura não é necessariamente a cura do corpo. E a cura espiritual não é espiritual só porque é feita por espíritos. Ela tem esse nome porque é uma cura do espírito. E, eu garanto para você, ele se curou.
Eu tive essa certeza vendo a transformação pela qual o meu filho passou. Foram nove meses de uma busca muito intensa. Ele era uma pessoa extremamente rígida, tanto que passou quatro meses com dor e não deixava de tomar homeopatia. Ele também se recusava a fazer qualquer exame. Por fim, teve que pedir morfina. Ele era uma pessoa extremamente independente, e acabou precisando de ajuda para se vestir, para andar, etc. Então, calcule o quanto esse espírito não foi trabalhado.
No dia do lançamento do meu livro. Eu recebi uma mensagem dele maravilhosa, psicografada pelo dono da Sociedade Espírita Boa Nova, o Francisco do Espírito Santo. Ele me disse que, naquele momento, ainda não podia falar sobre as causas da doença, mas que estava definitivamente curado.
PLANETA – Entre as pessoas que entrevistou no Grupo Noel, havia seguidores de várias religiões, católicos, judeus, e até ateus. Como você explica isso?
CLEIDE –Esse é um fenômeno do homem brasileiro, muito característico da nossa cultura. Pela formação pluralista, o Brasil favorece essa convivência de muitas religiões sem o fanatismo religioso intenso de algumas sociedades. Então você se permite transitar de uma casa para outra, sem os problemas culturais que outras sociedades sofrem. Ainda na infância, você senta no banco escolar e encontra coleguinhas de outras religiões e já ouve o outro dizer como é que ele reza. Assim cria menos preconceitos e menos barreiras para receber esse tipo de ajuda espiritual.
Eu tive muita sorte na vida, sempre digo isso. Meu pai era protestante e minha mãe católica. Eu adorava ir Igreja católica por causa do ritual da missa, da comunhão dos mistérios… E adorava ir à escola dominical para aprender a ler a Bíblia. Depois, fui para a universidade e, como todo bom universitário na época da repressão, me tornei marxista. Aí passei a questionar tudo. Com o tempo, casei, vieram os filhos e, com eles, uma série de indagações. Meu filho mais novo, por exemplo, estudava na creche aqui da PUC e um amiguinho morreu. Ele então me perguntou: “Mãe, o que acontece quando a gente morre?” Isso me pegou desprevenida. Eu disse que não sabia. “mas eu sei”, afirmou ele. “O pensamento vira anjo e vai para o céu.” Fui conversar com a professora dele e ela me contou que meu filho havia dito a mesma coisa para todos os coleguinhas. Isso me fez parar para pensar de novo.
Por outro lado, comecei a procurar uma forma de ajudar um sobrinho excepcional. Todos os professores aqui da PUC que eu procurava, os quais eu reputava como pessoas muito inteligentes, diziam para eu levá-lo a um centro ou a um médico espírita. “Mas vocês acreditam nisso?”, eu questionava. E eles diziam: “Claro, a medicina e a psiquiatria não sabem nada”. Assim fui procurar uma explicação no meio espírita.
PLANETA – Quando resolveu defender uma tese sobre cura espiritual, você não sofreu nenhum tipo de preconceito por parte dos seus professores e colegas?”
CLEIDE – A maioria das pessoas que vêm à PUC fazer ciência da religião é católica, e no meu grupo havia muitas freiras. Eu tive um apoio tremendo de dois professores, dois teólogos católicos – um ex-padre jesuíta e outro que não chegou a ser padre. Na minha banca examinadora da tese havia um padre, que me falou que nunca tinha lido nada de Kardec. O que me espanta é isto: se vêm para um ambiente acadêmico, as pessoas só tem acesso a informações da academia. Se estão num centro espírita é a mesma coisa: tem acesso à literatura espírita de uma forma muito enfatizada. E eu estava no meio disso, querendo entender essa realidade à luz da academia. Na verdade, a postura teórica dos professores era de muito respeito. Eles encaram o Kardecismo como uma filosofia e, enquanto filosofia, eles o aceitam. Assim, me deram total apoio.
De colegas de curso, porém, eu percebi uma certa dificuldade.
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