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Cena do filme "300" |
Minha mãe foi assaltada na semana passada. Assalto mesmo,
deste com arma na cabeça e promessas de morte precoce. Não vou entrar no mérito
da questão, estão todos bem, e os bens materiais vão e voltam, graças à lei
suprema do Universo. Mas uma coisa que eu notei nela, e já tinha notado em mim
quando passei por situação semelhante, foi a revolta.
Parece que estamos vivendo uma geração de revolta. Uma revolta sem nome, sem destino certo, sem opinião formada. Na geração dos anos 1968, as pessoas tinham a ditadura, o governo. Nas grandes revoluções sempre existem as figuras de poder, contra as quais as pessoas se revoltam. A revolta permeia o ser humano há séculos.
Parece que estamos vivendo uma geração de revolta. Uma revolta sem nome, sem destino certo, sem opinião formada. Na geração dos anos 1968, as pessoas tinham a ditadura, o governo. Nas grandes revoluções sempre existem as figuras de poder, contra as quais as pessoas se revoltam. A revolta permeia o ser humano há séculos.
Na porta do julgamento de Lindenberg Alves (aquele que matou
a namorada Eloá em Santo André), centenas de pessoas se aglomeraram com
cartazes, gritando “Justiça”. Algumas sabiam o que estavam fazendo lá, outras
não, atraídas tão somente pela curiosidade e pela mídia. As pessoas estavam lá,
revoltadas na porta do fórum, esperando a justiça.
É interessante que todo o senso de justiça humana é assim.
Quando somos pequenos e nosso coleguinha rouba o nosso sorvete no recreio, nos
sentimos injustiçados. Contamos pra professora que logo toma as nossas dores e
faz justiça. Devolve o nosso sorvete querido e dá uma bronca no malvado. E
passamos a vida assim, como crianças mimadas, esperando nosso sorvete de volta.
Só que na vida adulta não tem a professora para fazer
justiça. Roubam o nosso sorvete, roubam o nosso marido, roubam a nossa
juventude, nosso dinheiro com taxas no banco, as coisas que lutamos para
conquistar. E tudo isso vai gerando uma revolta silenciosa, que vai fermentando
dentro de nós. Fermenta anos, anos a fio. E um dia você toma uma fechada no
trânsito e toda, toda a sua revolta de anos vem à toa! “Quem ele pensa que é
para nos fechar daquela maneira? Isso não é justo. Não é justo!” Esbravejamos.
E lá estamos nós presos na revolta. Falei do assalto, mas
isso acontece em níveis muito mais sutis, todo o tempo. Temos ainda a mágoa de
não sermos o filho predileto. A revolta daquele nosso primeiro namorado não ter
sido tão apaixonado assim pela gente e ter ficado com a nossa melhor amiga. A
revolta por aquele colega de trabalho que dormiu com o chefe e levou uma vaga
que estávamos pleiteando há anos. Se você ligar a TV é só isso que tem. A
palavra revolta virou uma “coisa boa” de se sentir. “Temos que nós indignar
para fazer alguma coisa sim”...e, logo em seguida vem o “se você for assaltado,
não reaja”. Como isso? Que diabos de mensagens dúbias e falsas são estas? Por que
preciso me revoltar?
A revolta vem quando acreditamos no mal. Acreditamos na
vingança. Acreditamos que Deus, lá em cima, sentado numa nuvem vai fazer
algumas coisa. Acreditamos que nossos filhos serão sempre nossos, porque Deus
vai proteger. Acreditamos que nada vai acontecer de ruim porque Deus está
olhando. E quando acontece nos revoltamos com Deus!
É um mecanismo torpe, que perde logo de cara. Não tem jeito
de você ganhar nada com a revolta. Nunca vi alguém que foi resolver qualquer
coisa (desde um probleminha no banco até um caso gravíssimo) com revolta e
tivesse saído de lá vitorioso. Você já viu? Já vi gente se vingar e achar que
isso foi resolver. Mas resolver mesmo, de verdade, nunca vi.
E como a gente faz para não entrar nessa energia? Primeiro
resolvendo as crenças do que é justo ou injusto no mundo. Não existe a
injustiça. Nem a divina e nem a humana. O que existe é um conjunto de fatores
de nossa inteira responsabilidade que nos faz entrar ou não nas coisas, naquela
determinada energia. O que existe é um fluir da vida no sentido em que ela
achar melhor e sim, muitas vezes, a você basta aceitar. Aceitar que nem todas
as pessoas levarão a vida como você quer que elas levem. Que elas podem se
perder no meio do caminho, serem atropeladas pela vida. Podem se perder em
drogas, em amizades ruins, podem não te querer mais por perto.
Parar de achar que você é quem controla as coisas, você só
controla a sua própria energia. Se você se mantiver no bem (e por bem, não
entendam fazer caridade, mas cuidar de si mesmo) você atrairá o bem. E o
contrário também é verdadeiro. Sim, as “injustiças” do mundo continuarão
acontecendo e você só poderá fazer o que for possível, quando possível. Porque
o mundo é muito grande e muito antigo para você achar que pode tudo. Quando as coisas ruins e injustas acontecerem
olhe para elas com carinho. Perceba que parte de você atraiu aquela situação
(um assalto, uma taxa cobrada a mais, um cliente mal educado), perceba o que você
precisa mudar em si para que as situações ao seu redor mudem.
Sim, existem vários mundos dentro de um só. Existem pessoas
que são assaltadas a cada 20 minutos e outras que nunca foram! Por que será?
Sorte? Destino? Você não acha que está na hora de parar de agir como o
menininho no playground e crescer de verdade? Aceitar a realidade, aceitar o
planeta no qual você reencarnou? Estamos numa encarnação de tentativas e erros.
Sim, vamos errar, e os outros vão errar conosco. Mas ainda assim, é só e tudo
aprendizado. Nada é real. Você não é bobo e nem o espertão que pensa. Você é só
você! E isso já é muito, muito trabalho!
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