Aconteceu na Bahia, em plenas férias de verão. Estava eu,
bela e folgada, jantando num lindo restaurante na Marina Bahia. O lugar é uma
graça, fica num píer e jantamos com a água debaixo dos nossos pés. Bem ali fica
o mar, iluminado por uma belíssima luz verde (artificial). A brisa baiana, o
verão, o calor, estava tudo perfeito. Levantei-me da mesa e fiquei observando
as pequenas ondas que se formavam no píer. Senti uma aproximação ao meu lado,
era a minha mãe. Ela olhou aquilo e disse “que lindo, né”. No que eu concordei
na hora! E então ela seguiu com um “imagina aquelas pessoas no Titanic, aquela
água gelada, a pessoa cai na água e morre congelada, ai credo”. Fiquei parada, olhando
para ela, pensando de onde diabos ela tinha tirado aqueles pensamentos. E depois
de conformada eu pensei “meu deus, e ela é que me criou”.
Sempre me perguntei de onde vinham meus pensamentos
catastróficos. Uma vez fiquei paralisada vendo um caminhão cair de cima de uma
ponte, só na minha imaginação. Sempre imagino que o avião no qual eu viajo está
caindo, que o carro vai bater e cair num rio e uma centena de desgraças dignas
de Hollywood (e de onde será que os autores de lá tiram suas ideias, não é?).
Ali eu entendi tudo. Era tudo dela! Sua maneira de pensar
catastrófica me criou. Justo eu, um serzinho médium e impressionável, enchendo
a minha cabeça de minhocas. Outra dia me peguei justamente pensando uma
desgraça destas e consegui parar meus pensamentos. Eu apelidei isso de “ameba
da desgraça”, só pra eu poder entender quando é ela e quando sou eu.
O mais interessante das amebas da desgraça é que os
pensamentos parecem ser automáticos. É como se um pensamento invadisse a sua
mente, como se viesse de fora de você e, quando você percebe, já está lá no
meio da bagunça. Isso não acontece só nos casos de desgraças deste tipo, mas de
outros “modelos” também. Aquela que imagina que qualquer comida vai deixa-la
obesa. Aquela que, e eu sempre vejo estas nas minhas clientes, tem medo de
ficar pobre de ir morar debaixo da ponte. Eu sempre brinco que se todas que tem
medo de morar lá fossem, de fato, não teríamos pontes suficientes no Brasil. Temos
o péssimo hábito de pensar única e exclusivamente no que é ruim. Quando queremos
ter um pensamento promissor, positivo, precisamos parar e fazer uma força
imensa. Mas a desgraça, essa vem de graça e rapidinho.
É aquele seu amigo que, quando você conta que caiu, diz que
também caiu, mas que prendeu a perna num trator e o trator quase levou seu
dedão! Quando você fala que pensa em se separar, já conta que tem certeza de
que a mulher tem outro, ou que o marido tem outra. Enfim, acho que exemplos
disso são coisas que não devem faltar na sua vida, não é mesmo?
E como combater isso? A primeira coisa é identificar onde
estão os seus pensamentos catastróficos. Será que é na parte financeira? Medo de
desastres naturais? Medo do quê? Depois que você entender isso, começa um longo
trabalho de combate das amebas.
Eles (os pensamentos) vão falar e você vai deixar que falem.
Não pode se prender ao pensamento e começar a inventar mais e mais coisas
naquilo, não. Simplesmente pare e observe. Comece a repetir um mantra pessoal
que você mesmo pode criar. Eu estou usando o “isso não é meu, este pensamento não me pertence”. Você pode
usar um “estou em paz”, “calma” ou simplesmente tentar se distrair de alguma
maneira. Também funciona imaginar a placa “Pare”, como se ela estivesse bem na
sua frente, cada vez que estas coisas acontecerem. Na primeira vez vai parecer
que não adiantou nada. Mas com o tempo os pensamentos catastróficos vão ficando
disciplinados. E aí você poderá perceber o quanto de tempo e de energia perdeu
com bobagens.
Essa é uma ótima maneira de parar de pensar no mal e começar
a se conectar ao seu bem.
P.S. Dois dias depois deste artigo, minha mãe foi assaltada com uma arma na cabeça.
P.S. Dois dias depois deste artigo, minha mãe foi assaltada com uma arma na cabeça.
Um comentário:
Simplesmente eu fiquei sem palavras, parabéns pelo artigo! Digo isto, pois, com minha mãe é a mesma história: se uma coisa vai acontecer, vai acontecer ruim e de preferência com tudo de tortura e óbito que puder. Se não fosse por meu pai, eu nunca questionaria esses episódios de "profecias catastróficas" da minha mãe. Que, muitas vezes, são da imaginação dela. Apesar de ela não ter más intenções, os pensamentos ruins são constantes e afetam quem está ao redor também. Parabenizo você a este post, pois enfatiza sobre um hábito que é praticamente constante, porém quase ninguém cita ou comenta do mesmo! Acho importante não cultivarmos pensamentos ruins (pois energias ruins demais podem nos sucumbir, nos levar aonde deixamos que nos guiem), e então começarmos a preservar energias e pensamentos que nos levem a um realismo em sentido otimista, tal como "eu posso arrumar um outro emprego, tenho vocação para aquela área!", "a viagem será tranquila, como sempre foi nas outras que fiz!", e etc. Outra coisa que eu aprendi, paralelamente, foi não pesar a mente, e deixar-se levar mais pela ingenuidade da vida, como simplesmente, curtir o mar, a brisa, abraçar os filhos, ver como há coisas que são belas e simplesmente contemplar. Afinal, não vamos morrer sabendo de tudo mesmo, nem ter feito de tudo, então cabe a nós preencher a vida da melhor forma, em sentido de qualidade ("curti muito") e não só de quantidade ("consegui muito"). Aprofundando mais sobre tudo isso, não sei como definir, talvez como uma necessidade primordial que temos é de gostar de aprender; e aprendemos geralmente com lições, que nos são por vezes dolorosas (como machucar o dedo no canto do sofá) e procurar uma explicação a essa condição ("se eu não machucasse o dedo, não aprenderia que naquele canto do sofá pode me acontecer isso") e então um condicionamento (desviar-se depois sempre do canto do sofá), aprendizamos estes que são ruins e dolorosos que podem nos trazer a um bem sobre nós. No caso do Titanic, o sofrimento e a morte daquelas pessoas é um assunto que aguça a imaginação porque guardamos dúvidas sobre a morte, acredito eu. Quando já se aprendeu a definir a morte e o desespero, já entra em talvez outro patamar, um mais "zen"... por assim dizer. Talvez seja por pela "necessidade de aprendizado" que é difícil convencer alguém a parar de pensar demais em uma catástrofe, pois a pessoa ainda, possivelmente, está no ritmo dela, tentando compreender o significado daquilo, e talvez procurando uma lição disso tudo. O ponto nocivo que eu vejo dos pensamentos catastróficos, é quando deposita-se muita energia neles, geralmente pesada, ruim, e que pode pesar nas costas de quem está perto e tem absolutamente nada a ver. E coisas ruins podem trazer coisas ruins, tanto a quem pensa como a quem está perto, a não ser que este não se deixe influenciar-se pela energia de catástrofe. Enfim, novamente, quero parabenizá-la por este seu artigo, que é de um hábito tão comum, mas tão pouco comentado, e sua percepção foi ótima em acertar em cheio a definição e descrição do mesmo. Talvez as pessoas tomando consciência disso, entendam melhor delas mesmas e evitem acumular energias ruins nas vidas delas, facilitando muito não só para elas mas para os seus próximos.
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