O dia está esquisito. As
energias, bem estranhas. O meu cunhado mandou uma mensagem dizendo que a minha
irmã está no hospital e suspeitam de gripe suína. Mas não ligou, só mandou uma
mensagem.
Eu acordei as quatro e pouco da
manhã sentindo uma pressão na cabeça, uma coisa estranha, um medo. Hoje notei
que a minha barriga está cheia de manchinhas, como aquelas vermelhas que depois
viram sardas. Estranho.
Fico pensando, com o meu poder de
ser impressionada pelas coisas, na moça que morreu com meningite hemorrágica,
uma história que eu ouvi na semana passada. Ela deu entrada no hospital num
dia, 36 anos, grávida, e no outro já tinha ido embora. Quando o Universo quer
nos levar ele dá um jeito. E aí não tem nada que possamos fazer.
Acredito que é isso que eu
preciso aprender. Aprender a me soltar para a vida e para as possibilidades.
Incluindo a possibilidade da morte e da perda. A minha morte, a morte dos
outros e como outros reagiriam à minha. Eu nunca pensei nisso porque tinha
medo. Medo de que as palavras ou os meus pensamentos atraíssem alguma coisa
ruim, como se eu sozinha tivesse este poder.
Este poder é de Deus. E não
existe mal. Só existe o bem. Lendo o livro “Emagrecendo pelo poder do espírito”
eu entendi algumas coisas. Lá ela diz que pessoas que engordam não aceitam o
mundo como ele é. E eu sei que estou assim. Não aceitando o que parece mal. Não
aceitando manchas fortuitas no corpo, irmãs doentes, problemas de qualquer
ordem.
Eu quero viver em paz. Paz aqui
dentro. E se para isso eu precisar me desapegar de verdade das pessoas e
aprender a amar por amar, eu vou fazer. Não amar por querer todo mundo perto e
nem pensar que eu posso proteger as pessoas de algum sofrimento.
Eu não posso. Eu não tenho este
poder. Estou aceitando a minha impotência em não conseguir resolver certos
tipos de problemas. Nunca aceitei a morte. Nunca aceitei a morte da minha avó,
aos 14 anos de idade. Nunca aceitei ter saído de São José dos Campos e deixado
lá todos os meus amigos. Nunca aceitei que eu mesma, um dia, vou morrer. Eu vou
morrer. Repetir isso é estranho. Muito estranho. Um fim em mim. Um dia, o
Universo virá e vai falar “Olha, preciso te levar embora”. E eu vou. Porque
parei de não aceitar alguma coisa. Eu aceito. Aceito tudo. Nada de críticas,
nada de criticar as pessoas do apartamento de baixo que falam alto demais. Nada
de criticar motoristas imprudentes.
Minha lição hoje será: eu aceito.
E tudo o que vir na rua, no mundo, em mim eu vou repetir esta frase. Vou me
deixar levar, vou entrar no fluxo da vida e parar de brigar com ela. A vida
sempre ganha mesmo, não é? O que me adianta brigar com ela? Quanta
bobagem...quanta pretensão! Sim, a palavra é esta, eu estava pretensiosa.
Achando que eu poderia controlar o mundo, as pessoas, a morte, os motoristas, a
chuva, o sol, Deus! Quanta pretensão. Eu sou maravilhosa, mas sou um cisco
(necessário) no Universo das coisas. Eu vim para cá para somar, para ajudar.
Sempre me disseram isso e eu não
tinha entendido. Eu só vim ajudar. Mas para isso, antes, eu preciso aceitar. E
aceitar vai fazer com que eu não me impressione mais com nada. Nada nesta vida.
Só preciso de tempo, descanso e aceitação.
Aceitar a vida. Aceitar que estou
num plano de coisas onde existe sim dor e sofrimento. Onde existem assaltos,
onde existe afogamento, tsunamis, conta bancária vermelha, gente drogada,
mortes no transito, Jornal Nacional e Faustão.
Mas também, e é nesta faixa que
eu vou me conectar, existe praia e sol. Montanhas verdinhas, café quente, suco
de melancia, chocolate. Existem lojas com coisas lindas, camas confortáveis,
cheiro de grama cortada. Existem lembranças de avós e avôs na praia, passeando
pelo jardim. Existem esmaltes de cores divinas e alegres. Existe amor, beijos
intermináveis, saudade boa de quem está longe. Amigos, risadas até as altas
horas da madrugada. Aquela sensação boa de tomar uma boa taça de vinho branco.
Frescor. Refresco, brisa num dia quente. Uma sensação de energia e bem estar
depois de fazer 30 minutos de esteira. Sucesso. Metas alcançadas. Amor de mãe e
de pai. Almoço de família, bebês fofos. Um sobrinho esboçado, canetinhas
coloridas e a Barbie. Existe dormir até as 11 num domingo preguiçoso. Existe
descansar os pés depois de uma longa caminhada. Pão feito em casa e pão de queijo
assado em casa com café fresquinho e leite.
Existe roupa pequena que agora
serve. Existe acordar com o seu amor do lado, ou com seus filhos puxando as
cobertas. Existem festas de aniversário, Natal, Réveillon. Viagens, conhecer
lugares novos. Paris, Nova York, Índia, Tókio. Comida japonesa de rodízio.
Pastel de feira. Flores, muitas e muitas flores. Ver seu vaso de morango
brotando...
Existem tantas e tantas
maravilhas. Tanta coisa boa que a lista seria interminável. Esta é a minha
lista das coisas que eu aceito.
Fev/2008