
Eu estava aqui pensando numa coisa que andou acontecendo nos últimos dias. Eu faço um curso às terças-feiras, e parte deste curso é fazer um bom relaxamento, entrar em contato com seu eu profundo e tudo mais. E nos três últimos encontros, quando o dirigente começa a fazer o tal relaxamento, o celular de alguém próximo toca. Aquele silêncio, e a pessoa com aquele barulhão de celular. Na última vez era um rádio (ai que ódio destes rádios) e a pessoa do outro lado da linha chegou a falar um palavrão "&$%¨$ atende essa m*".
O mais interessante é que são pessoas completamente diferentes, celulares diferentes, de diferentes pontos da sala (já que eu mudei muito de lugar nos últimos encontros), mas mesmo assim isso continua acontecendo. E como eu não sou boba, nem nada, já percebi que tinha caroço no angú.
Aqui em casa, a mesma coisa. Há meses uma obra gigantesca está tirando o sossego de todo mundo da vizinhança. São caminhões e mais caminhões, bate-bate, motoserra, das 7 da manhã às 7 da noite, todos os dias, incluindo os feriados. Todos os dias, a partir das 7 da manhã, acabou o sossego. Ainda mais quando é sábado, ou um feriado, e você só quer dormir mais um pouco. Nada disso: acorda Andrea. Ontem então, como já aconteceram algumas vezes, parou o sindicato com um auto-falante digno de show da Lady Gaga, dizendo que o café da manhã dos funcionários não estava bom e acordando até o nono quarteirão a partir daqui. Mais incomodo. Por que será?
Quando alguma coisa acontece demais fora de você, é porque já está acontecendo lá dentro. Então me pus à pensar no que poderia estar me incomodando tanto e que eu não estava ciente.
Estar ciente é saber que existe. Quantas vezes, depois de descobrirmos alguma coisa sobre nós mesmos ou sobre o outros, nos dizemos "é, tudo faz sentido agora, eu já sabia disso de alguma maneira". É aquilo que está na porta do inconsciente, prontinho pra sair, mas que é difícil. Ou porque não estamos a fim de olhar aquilo lá, ou porque, geralmente é essa, estamos muito apegados.
Apego é uma das grandes doenças da humanidade. Apegar-se ao velho, ao morto, às coisas que até foram sim, muito boas no passado. No passado. Apego é um convite de porta aberta à se ferrar. Tomar um tombão do cavalo e se estatelar lá embaixo de cara na lama. É uma grande porcaria.
E ao que eu poderia estar me apegando? Sim, à situações do passado. A coisas que eu jurei, de pés juntos, que nunca iriam ser diferentes. Mas, poxa, se eu sou essa metamorfose ambulante, se eu mudo o tempo todo, como eu queria que as coisas fossem as mesmas? Estou falando isso de um ponto de vista bem específico, mas sei que vale para o todo. E usando um velho clichê, não tem como nada novo entrar, enquanto não soltamos o velho.
Por isso hoje, aqui, às 7 da manhã de uma sexta-feira, eu faço um exercício de desapego. De soltar. As amarras do passado, as boas histórias. Solto o que já foi bom porque foi no tempo certo do que precisava ser. Perdoo as pessoas que não souberam caminhar na mesma velocidade que eu ou que simplesmente pegaram outros caminhos ou até atalhos. Perdoo o fato de eu ter demorado tanto para perceber que, simplesmente, as coisas mudam. Perdoo o Universo por ter girado a sua roda e feito com que algumas coisas chegassem aonde chegaram.
A vida é isso. A morte, a única certeza de tudo, nos mostra isso. Que existem várias mortes na nossa existência e não, não são as fases mais legais das nossas vidas, mas que é preciso deixar que elas acontecam. E mais do que compreender, é aceitar que existem coisas que você não vai mudar nunca, não adianta. Que são os caminhos de outras pessoas que, por mais que você ame, não tem como nem ajudar, na maioria das vezes.
E aproveitando o meu alvará de soltura, vou soltar o juramento de "na alegria e na tristeza" que fiz com algumas pessoas. Um juramento secreto, só meu, de sempre estar lá e ajudar no que fosse preciso. Não é possível isso. Isso é pretenção e vaidade minha. E a melhor parte do que eu solto em mim é essa vaidade. A vaidade de ter algumas "metas" atingidas, a vaidade de mostrar para os outros como eu sou uma pessoa bacana que "tem" isso ou aquilo. Porque, de fato, não há nada a não ser nós mesmos. A não ser eu aqui, sozinha nessa cama quentinha, escrevendo sobre algo que, quando eu começei, nem sabia aonde iria dar.
Sou uma mulher diferente agora. Sem mágoas, sem amarras, pronta para as novas experiências da vida. Novas experiências que, com o tempo, vão envelhecer e precisarão ser trocadas. Não, não é cruel a troca, cruel é não saber a hora certa de fazer isso.
Obrigada ao Universo pelos toques (literalmente, de celular). Não vou mais deixar nada, nada, me incomodar tanto. Por enquanto!
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