
Drª Márcia Capella, coordenadora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, coordenou a pesquisa do Programa de Oncobiologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) que expôs células ligadas ao cancro da mama à 5ª Sinfonia de Beethoven e a Atmosphères de György Ligeti. 1 em cada 5 células desapareceu e as sobreviventes diminuíram de tamanho.
Tradicionalmente a musico
terapia é já largamente utilizada em desordens emocionais. Este estudo comprova
que "a música produz um efeito directo sobre as células do nosso
organismo".
O resultado é enigmático
para a cientista. O sucesso de 2 composições aparentemente tão distintas procura
junto de professores de música associações por via do rítmo, timbre ou
intensidade.
Depois de descobrir a causa
responsável pela alteração das células, a intenção é "construir uma sequência
sonora especial para o tratamento de tumores". Outros géneros musicais serão
investigados e em Abril será testado o samba e o
funk.
Publicada em 29/03/2011
Renato GrandelleRIO - Mesmo
quem não costuma escutar música clássica já ouviu, numerosas vezes, o primeiro
movimento da "Quinta Sinfonia" de Ludwig van Beethoven. O "pam-pam-pam-pam" que
abre uma das mais famosas composições da História, descobriu-se agora, seria
capaz de matar células tumorais - em testes de laboratório. Uma pesquisa do
Programa de Oncobiologia da UFRJ expôs uma cultura de células MCF-7, ligadas ao
câncer de mama, à meia hora da obra. Um em cada cinco delas morreu, numa
experiência que abre um nova frente contra a doença, por meio de timbres e
frequências.
A estratégia, que parece
estranha à primeira vista, busca encontrar formas mais eficientes e menos
tóxicas de combater o câncer: em vez de radioterapia, um dia seria possível
pensar no uso de frequências sonoras. O estudo inovou ao usar a musicoterapia
fora do tratamento de distúrbios emocionais.
- Esta terapia costuma ser
adotada em doenças ligadas a problemas psicológicos, situações que envolvam um
componente emocional. Mostramos que, além disso, a música produz um efeito
direto sobre as células do nosso organismo - ressalta Márcia Capella, do
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, coordenadora do estudo.
Como as MCF-7 duplicam-se a
cada 30 horas, Márcia esperou dois dias entre a sessão musical e o teste dos
seus efeitos. Neste prazo, 20% da amostragem morreu. Entre as células
sobreviventes, muitas perderam tamanho e
granulosidade.
O resultado da pesquisa é
enigmático até mesmo para Márcia. A composição "Atmosphères", do húngaro György
Ligeti, provocou efeitos semelhantes àqueles registrados com Beethoven. Mas a
"Sonata para 2 pianos em ré maior", de Wolfgang Amadeus Mozart, uma das mais
populares em musicoterapia, não teve efeito.
- Foi estranho, porque esta
sonata provoca algo conhecido como o "efeito Mozart", um aumento temporário do
raciocínio espaço-temporal - pondera a pesquisadora. - Mas ficamos felizes com o
resultado. Acreditávamos que as sinfonias provocariam apenas alterações
metabólicas, não a morte de células
cancerígenas.
"Atmosphères",
diferentemente da "Quinta Sinfonia", é uma composição contemporânea,
caracterizada pela ausência de uma linha melódica. Por que, então, duas músicas
tão diferentes provocaram o mesmo efeito?
Aliada a uma equipe que
inclui um professor da Escola de Música Villa-Lobos, Márcia, agora, procura esta
resposta dividindo as músicas em partes. Pode ser que o efeito tenha vindo não
do conjunto da obra, mas especificamente de um ritmo, um timbre ou
intensidade.
Em abril, exposição a samba
e funk
Quando conseguir identificar
o que matou as células, o passo seguinte será a construção de uma sequência
sonora especial para o tratamento de tumores. O caminho até esta melodia passará
por outros gêneros musicais. A partir do mês que vem, os pesquisadores testarão
o efeito do samba e do funk sobre as células
tumorais.
- Ainda não sabemos que
música e qual compositor vamos usar. A quantidade de combinações sonoras que
podemos estudar é imensa - diz a pesquisadora.
Outra via de pesquisa é
investigar se as sinfonias provocaram outro tipo de efeito no organismo. Por
enquanto, apenas células renais e tumorais foram expostas à música. Só no
segundo grupo foi registrada alguma alteração.
A pesquisa também
possibilitou uma conclusão alheia às culturas de células. Como ficou provado que
o efeito das músicas extrapola o componente emocional, é possível que haja uma
diferença entre ouví-la com som ambiente ou fone de
ouvido.
- Os resultados parciais
sugerem que, com o fone de ouvido, estamos nos beneficiando dos efeitos
emocionais e desprezando as consequências diretas, como estas observadas com o
experimento - revela Márcia.
A Música e seus efeitos
terapêuticos
Segundo a Canadian
Association for Music Therapy, "a Musicoterapia é a utilização da música para
auxiliar a integração física, psicológica e emocional do indivíduo e para o
tratamento de doenças ou deficiências. A natureza da musicoterapia enfatiza uma
abordagem criativa no trabalho terapêutico, possibilitando uma abordagem
humanista e viável que reconhece e desenvolve recursos internos geralmente
reprimidos pelos clientes".
Os instrumentos musicais e
seus efeitos:
PIANO - combate a depressão
e a melancolia
VIOLINO - combate a sensação
de insegurança
FLAUTA DOCE - combate
nervosismo e ansiedade
VIOLONCELO - incentiva a
introspecção e a sobriedade
DE SOPRO - inspiram coragem
e impulsividade.
Para combater a
depressão e o medo excessivo:
- Sonho de Amor, de
Liszt
- Serenata, de
Schubert
- Guilherme Tell (Abertura),
de Rossini
- Noturno Opus 48, de
Chopin
- Chacona, de
Bach.
O ideal é uma sessão diária
de meia hora pela manhã.
Para combater insônia,
tensão e nervosismo:
- Canção da Primavera, de
Mendelssohn
- Sonata ao Luar, de
Beethoven (Primeiro Movimento)
- Valsa nº15 em Lá Bemol, de
Brahmms
- Sonho de Amor, de
Liszt
- Movimentos Musicais nº3,
de Schubert.
Depois de ouvir as peças
indicadas, escolha a que deu melhores resultados e escute-a diariamente, antes
de dormir. No ínicio, os efeitos são leves. É preciso um pouco de paciência e
persistência para notar progressos.
Durante a gravidez e para
facilitar o parto:
- Concerto para violino,
Opus 87B, de Sibelius.
- Sonata Opus 56, de
Haydn
- As quatro Estações, de
Vivaldi
- Concerto Tríplice, de
Beethoven
- Concerto para violino, de
Brahmms
- Concerto para violino, de
Tchaikovsky.
Ouvidas alternadamente, por
perídos durante a gravidez e nos dias que precedem ao parto, estas peças geram
bem-estar e contribuem para o nascimento de crianças
tranquilas.
Para melhor estimular a
memória:
- Concerto em Dó Maior para
bandolim, corda e clavicórdia, de Vivaldi
- Largo do Concerto em Dó
maior para Clavicórdia, BMW 976, de Bach
- Spectrum Suíte, Confort
Zone e Starbone Suíte, de Stephen Halpern.
Fazer sessões de 1 hora,
pela manhã, ao acordar. Alterne cada peça, a cada
dia.
Para favorecer a
interiorização e a meditação:
- Concerto nº2 para Piano,
de Rachmaninov (último movimento)
- Concerto em Lá menor para
piano, de Grieg (primeiro movimento)
- Concerto nº1 para piano,
de Tchaikovsky (primeiro movimento)
Ouvir qualquer peça durante
10 minutos antes da meditação. É importante enfatizar que a música não é um
curativo eficaz em si mesmo, mas que seus efeitos terapêuticos resultam de uma
aplicação profissional durante um processo
terapêutico.
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