Hoje eu vou contar uma história que não é minha, mas que me
mostrou muitas coisas de como a nossa insegurança e falta de autoconfiança,
podem minar as nossas vidas. Comecei a atender G. há 8 meses (não vou contar o
nome, mesmo ela autorizando) , uma moça de 41 anos que me pareceu bem resolvida
demais pra um primeiro momento. G. trabalha há 4 meses numa empresa de alimentos, para
onde foi transferida depois de 6 anos em outra da mesma área. É bonita a seu
jeito, tem facilidade com línguas, é bem humorada e faz muitas coisas
interessantes. Não parece ter uma autoestima baixa, mas mesmo assim ve-se às
turras com a balança de vez em quando. Enfim, uma pessoa normal.
G. está indo bem no seu novo emprego mas a chegada de uma menina a
deixou insegura. A tal menina, de 24 anos, entrou na empresa há pouco mais de 1
mês. É muito bonita, atraente, parece já ter feito coisas demais na vida e
demonstra um entusiasmo que, na visão de G., chega a ser irritante. E G.
irritada, de fato, com a moça.
Ela já vinha me dizendo sobre possíveis rivais dentro da empresa.
Já tinha identificado 2 ou 3 mulheres (sempre mulheres) com as quais ela não
conseguia se relacionar (no caso, me pareceu o contrário, mas tudo bem).Ficava
insegura cada vez que uma delas dava uma ideia nova, ou conseguia novos
clientes. Ela ficava triste e chegava a se deprimir com isso. Sempre pensando
que, logo logo, ela não teria mais lugar ali. Mesmo quando seu chefe direto
elogiou seu trabalho e chegou a dizer que, do jeito que iam as coisas, ela
seria promovida rapidamente. Mesmo assim, ela parece não acreditar.
Algum mecanismo nesta moça a coloca para baixo, a faz se comparar
com as demais. No momento está se comparando com a menina de 24 anos. Ela acha
que a moça é mais jovem,mais bonita e por estes motivos terá mais chances de se
dar bem no seu trabalho. Está transformando sua vida profissional num inferno
que poderá levá-la a ruína. Parece que tem medo de competição porque, na cabeça
dela, ela já perdeu.
G. conta que nunca gostou de jogos. Escondia-se no banheiro da
escola para não jogar queimada ou vôlei com as outras garotas. Ela até gostava
dos outros exercícios, mas os competitivos a deixavam nervosa e ansiosa.
Não vou mais entrar em detalhes, só passar para vocês as
conclusões as quais chegamos. G. é insegura e é sim, no fundo, muito
competitiva. Mas nunca se sente à altura de outras pessoas, mesmo que elas (os
outros) apresentem claras desvantagens. G. tem, por exemplo, mais experiência,
mais inteligência e sabe de todos os seus atributos. Mas quando chega alguém
que ela julga (sim, ela que acha isso) mais competente do que ela, ela desiste.
E é isso que está fazendo agora, inclusive, pensando em pedir as contas do
local onde trabalha.
A insegurança do ego ganhou de todo o resto. O local de trabalho é
só um exemplo de onde estas coisas podem nos combater. Nos relacionamentos
amorosos, por exemplo, isso acontece muito. Já vi muita gente desistir de
paqueras com ótimas chances por conta de “rivais” imaginárias. Claro que tudo
está só na cabeça da pessoa mas, na comparação, ela sempre perde.
Veja como é complicado se deixar levar por isso. Deixar-se levar
pelo julgamento de que aquilo que a sociedade aprova (a idade, a beleza da
jovem) são mais importantes do que tudo o que nós já temos. É como se toda as
qualidades de G. sumissem frente aos ítens apresentados pela garota. E,
perdendo, ela prefere se retirar do campo.
E aí que vem o famoso fracasso. Não é necessário, de maneira
nenhuma, que nos passemos por cima dos outros para obter o sucesso. Mas também
não podemos esticar o tapete vermelho para pessoas que notamos ter um potencial
semelhante ao nosso. A insegurança, neste caso, custou um emprego muito bem
remunerado e com boas chances de melhora. A loucura da mente, que entrou na
fantasia do “menos” levou com ela todas as chances. Daqui há poucos meses, como
já aconteceu antes com G., ela estará deprimida pensando que nada do que ela
faz dá certo, que “as coisas” não conspiram nunca a seu favor quando, no fundo,
o que ela fez foi deixar seus pensamentos dramáticos tomarem conta da sua vida.
Isso é muito, muito grave e muito, muito triste. Perceber-se é justamente
entrar nestes processos de negação e saber que sim, estamos inseguros, mas
temos que continuar mesmo assim. Desistir aqui, é desistir de si e assumir uma
profecia autorealizaável de que, não, eu não sirvo mesmo pra muita coisa. É
como se as lembranças ou traumas de infância ficassem ressoando dentro da
cabeça dela por anos a fio, derrubando tudo o que vê pela frente. Isso tudo, na
vida de uma linda mulher de 41 anos.
Cuidado com o que você
pensa porque, possivelmente, será o que a sua vida vai mesmo se tornar. Seja lá
o for, você sempre estará certo. Se pensar em desgraça, terá desgraça. Se
pensar em prosperidade e sucesso, é isso que terá.
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