12 de set. de 2009

Como as emoções afetam a nossa beleza?

Tem dia em que acordamos simplesmente lindas, a mulher mais atraente do mundo. Em outros, desejamos nem levantar da cama para evitar aquele rosto acabado. Afinal de contas, o que é a beleza emocional?

Por Bruna Bernardes e Layla MarquesFonte: Revista Uma/ Edição 104

Têm dias em que, definitivamente, nós mulheres não acordamos bem, nenhuma roupa parece servir, o cabelo não colabora e a palavra “linda” passa longe dos nossos sentidos. Mas, felizmente, também temos dias de glória, e como num passe de mágica, há dias em que acordamos nos sentindo bem, bonitas e até mais leves. Por que isso acontece? Até que ponto o nosso estado emocional influencia na visão que temos sobre nós mesmas?Para começar a esclarecer a questão, conversamos com a psicoterapeuta Lia Padovan; ela explica que o assunto é complexo e tem raízes profundas,fixadas desde os nossos primeiros anos de vida: “A visão que uma pessoa tem de si mesma se forma desde que nascemos, nós vamos nos conhecendo e nos reconhecendo primeiro através da visão de nossos pais e de quem nos criou”.Lia conta que, na medida em que vamos nos desenvolvendo, a nossa convivência com outras pessoas e o nosso processo de socialização vai se ampliando pouco a pouco, com os irmãos, os amigos, na escola, posteriormente no trabalho e nas relações afetivas. Assim, estamos sempre nos relacionando e nos comunicando, e é dessa convivência que surgem as bases das nossas impressões sobre nós, que se fixam no nosso inconsciente e posteriormente afetarão nas visões que teremos sobre nós. É desta forma que criamos nossa autoimagem.E é justamente durante essa formação que ocorrem os distúrbios: “Nos diferentes contextos em que vamos nos desenvolvendo, podemos ouvir comentários muito parecidos de diferentes pessoas, sendo alguns maissignificativos do que outros, alguns podem ser ruins ou diferentes dos da maioria”. A psicoterapeuta ressalta que nestes momentos em que ouvimos críticas e observações ruins, a influência e o papel da família são muito importantes.“É através da família que construímos um sistema de crenças, valores e significados sobre nós, herdados ou transmitidos de geração pra geração”.A nossa visão e nossa avaliação sobre nós muda constantemente, e são muitas as variáveis biopsicossociais que vão interferir neste processo: são inúmeras alterações biológicas e bioquímicas, os altos e baixos do nosso sistema endócrino, os neurotransmissores, as oscilações hormonais emdias que antecedem o período menstrual e até mesmo o estresse e a ansiedade por conta de fatores externos.‘Acreditar em Deus pode ajudar a acabar com a ansiedade, segundo um estudo da Universidade de Toronto, no Canadá. Quanto mais fé os voluntários tinham, mais tranquilos eles se mostravam diante das tarefas’

O X da beleza emocional
De acordo com o neurologista Antônio Spina França Neto - professor emérito do Departamento de Neurologia da USP, a “beleza emocional” é umfruto do estado das nossas relações afetivas, quando nos vemos de forma negativa (uma imagem irreal), isso é resultado de uma série de fatores emocionais.“Ocorre uma patologia mental, no qual a pessoa se vê de forma diferente do que realmente é, ela passa a ter uma visão distorcida dela mesma. Isso ocorre tanto por transtornos pessoais e interpessoais afetivos, estresse e problemas econômicos relevantes, que causam preocupação”.Antônio lembra ainda que quando a mulher tem uma vida muito sofrida, o próprio semblante dela mostra um estado alterado para a negatividade e o peso das emoções sobre a expressão. Podem ocorrer também distúrbios nas cargas hormonais.“O chamado Eixo Hipotálamo é a glândula responsável por enviar as cargas que alteram nossos hormônios, é exatamente ali que fica o centro das emoções. Logo, se há algum excesso, nossa mente é afetada e o estado emocional se modifica”, explica o neurologista.


O 'padrão' é uma distorção
Para o especialista no assunto, o psicólogo clínico e psicoterapeuta Marco Antônio de Tommaso, todos os fatores já citados contribuem para uma distorção da mulher acerca de sua imagem, porém, ele acredita que o principal causador da insatisfação feminina é o “padrão de beleza irreal” criado e alimentado pela mídia.Tommaso afirma que as alterações de visão são desencadeadas pelo bombardeio de estímulos que as mulheres recebem da mídia, o modelo dito como “padrão” não corresponde à realidade brasileira.“Há uma venda de uma beleza tida como ideal, mas com medidas que menos de 0,5% da população tem, nós estamos comparando modelos com mulheres ‘não-modelos’”.Para considerarmos algo “padrão”, esta característica deve ser atribuída a pelo menos 50% da população, mas neste caso, os padrões se aproximam do inatingível, e isso acaba criando um desgosto por parte das mulheres, que não gostam de se verem tão distantes daquela beleza consideradaIdeal.
“Não podemos comparar uma mulher em seu estado bruto, acabando de acordar, com uma imagem escolhida a dedo e trabalhada no photoshop. Esta é uma comparação muito cruel”, alerta o psicólogo.O psicoterapeuta afirma que o centro da questão está na autoestima da mulher. “A percepção é a autoestima”.Tommaso alega que quando a mulher se aceita incondicionalmente, ela modifica o que precisa ser modificado e vive bem daquela maneira. O que não pode haver é a preocupação com as comparações com o externo e, principalmente, não deve haver uma competição, para que não exista o medo de “perder” para aquelas figuras das “mulheres perfeitas” que circulam na mídia.A importância da autoestima também é enfatizada pela Dra. Lia. “Uma pessoa que tenha sido muito criticada ao longo de sua vida, que tenha sido pouco valorizada, com certeza terá mais dificuldade em se aceitar e gostar de si mesma do que aquela que foi sempre valorizada e estimulada em suas realizações”.Ela explica que a crítica que vem de um ambiente pessoal ou até mesmo da própria pessoa, é um dos fatores que mais influenciam negativamente sobre como nos vemos, se nos agrada ou não. “A ‘melhor’ beleza é aquela que vem da aceitação de si, da autoestima positiva, da valorização dos pontos fortes, do se sentir aceita e querida pelas pessoas que lhe sejam signifiativas”. Para a psicoterapeuta, é inevitável que na sociedade atual a imagem das modelos e das personagens televisivas influencie na distorção que as mulheres fazem de si.


Até as mulheres "padrão" tem suas neuroses
De acordo com um estudo realizado pelo Dr. Marco Antônio de Tommaso, no qual foram entrevistadas 140 modelos (com mais de 18 anos), todas estavam insatisfeitas de alguma maneira com a sua aparência, sendo que 92% delas alegaram que gostariam de fazer alguma cirurgia plástica.“Nem elas estão satisfeitas, e eu posso afirmar que o nível de insatisfação é maior do que o das mulheres que não são modelos, isso chega a ser espantoso”, conta Tommaso. Este é um ponto muito sério, pois estas distorções de imagem que ocorrem com modelos e mulheres obcecadas pela aparência trazem consequênciasgraves, como os transtornos alimentares (bulimia e anorexia), que podem levar até a morte. Mas se nem as modelos estão contentes com o queveem no espelho, então, o que nos resta fazer?“Não existe vacina para evitar este estado emocional, mas é preciso que a pessoa mantenha um estado de espírito equilibrado, se amando acima de tudo”, diz o neurologista Antônio Spina. O verdadeiro ideal de beleza deve ser buscado em cada uma de nós, devemos trabalhar na construção de uma referência própria de beleza, baseada na individualidade estética. Quais são as lentes que nós utilizamos pra nos vermos? Cada lente pode colocar luz sobre algumas de nossas características e deixar no escuro outras tantas que muitas vezes passam despercebidas, então, que tal usar uma “lente” que lhe permita ver as suas qualidades, suas experiências bem sucedidas, os elogios ouvidos e as comparações esquecidas?!
Lia Padovan salienta sua principal mensagem para as mulheres. “A beleza ideal é aquela dos seres humanos normais, cada qual com a sua peculiaridade, umas gordurinhas a mais aqui ou de menos ali, mas que nostornam únicas“. Muitas respostas são possíveis e não existem verdades absolutas. Cada pessoa poderá avaliar que tipo de influências recebeu e também como influenciou o seu meio.Então mulheres, vamos acordar lindas amanhã!

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