
Eu já tinha visto um trecho mas, como peguei só um pedaço, acabei desistindo. Depois li sobre o filme num blog de plus size, mas não fui atrás. E como eu acredito que o professor chega quando o aluno está pronto, era ontem o dia de assistir.
Eu ri, chorei, me desesperei,achei o máximo. Morri quando vi aquele homem todo sair da piscina, o abdomem mais sarado da história do cinema, vindo na direção de Jazmin, a protagonista plus da história. Minutos antes eu tinha visto, pela primeira vez na vida, um personagem de uma moça gordinha e linda, que trabalha numa agencia de publicidade no seriado "A Mulher Invisível" da Globo. E, pasmem, ela não estava fazendo o papel da gorda. Ele é um personagem normal, uma mulher que, por um acaso, é gordinha.
Gente, o que dizer? Acho que me veio à mente todas as vezes que eu sofri bulling por ser gorda. Todas as malditas frases de efeito que eu ouvi na vida. Lembrei que um dia estava eu e minhas prima chegando numa balada. Eu tinha uma depressão muito forte na época, estava doente, e minhas primas tinham conseguido me arrastar pra lá. A mesa da aniversariante ficava no fundo do local, de modo que precisamos atravessar uma multidão pra chegar até lá. Lá pelas tantas ou escuto uma pérola " Não sabia que a Fat Family tinha vindo", seguido por um monte de risadas de "amigos" que achavam que aquilo era diversão (as minhas primas também são gordinhas).
Perdi a conta das vezes que escutei nas festas "Meu amigo quer te conhecer". Quando o tal amigo chegava ele me olhava de cima a baixo e soltava uma gargalhada, para se virar e rir com a "zoeira" do amigo. E eu que achava mesmo que nunca tinha passado por estas coisas.
Fiz publucidade na PUC e uma vez fui chamada para uma entrevista de emprego. Achei que fosse um estágio, mas no final era pra ser a secretária do cara. Fui embora e ele ficou de ligar. Dois dias depois ele liga e minha mãe atende (porque desgraça pouca é bobagem) e ele diz a ela que eu não consegui a vaga, estava delicadamente ligando pra avisar. A minha mãe, cansada de me ver procurando emprego sem conseguir nada, perguntou o que me faltava para conseguir uma vaga. Ele foi direto: ela está gorda.
Estes são só alguns exemplos. Já fui xingada na rua, nas baladas, já fui objeto de aposta de caras querendo "se divertir". Uma vez apostaram uma caixa de cerveja "quem pegava a gordinha". Fiquei sabendo só depois. Uma vez cheguei na faculdade e descobri de uma amiga (que me contou isso dando risada) que meus então "amigos" (junto com o moço pelo qual eu estava apaixonada) se juntaram, na minha ausência, para rir do tamanho da minha bunda e outras coisas mais. Enfim, eu teria uma lista interminável de coisas assim pra contar.
E aí ontem, assistindo ao filme, eu notei uma coisa:eu concordava com eles. Quando cada um me disse que eu estava gorda, que eu menos por conta disso, eu acreditei. Eu dei crédito, eu olhei pra eles e disse "de fato, ser gorda é um erro e a única culpada sou eu". Com isso eu desisti de muita coisa na minha vida.
A primeira coisa foi o amor. Homens e Andrea? Oi?Nada a ver! Depois de ouvir tantas coisas, de ver tanto preconceito, me convenci de que amor era uma coisa que eu só teria depois de perder, pelo menos 30 quilos. E eu já perdi 30 quilos e mesmo assim não consegui amor algum. Consegui amor gorda mesmo, porque não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas sempre com pessoas complicadas, que tinham algum "problema" como eu também parecia ter. Eu fiz disso um problema e me exclui da sociedade, do vida amorosa e sexual, de um monte de coisas por ser assim: a gorda. Porque quando somos gordos não somos mais nada. Só gordos.
E isso é a sociedade na qual vivemos. Uma sociedade onde o que mais vale é saber controlarmos nossos instintos, controlar da maneira mais completa possível. Não coma, não sente de perna aberta, não fale palavrão, não, não, não. E diante de tanto preconceito, muitas vezes, o que nos resta é uma barra de chocolate e a certeza de que não seremos felizes. Jamais. Esquece. Ser feliz é coisa de gente magra.
Eu estou aqui numa luta pra mudar isso. Para emagrecer a minha mente e meus preconceitos, mais do que emagrecer meu corpo. Para eliminar os quilos de incompreensão que carrego de parentes, homens, mulheres, crianças, professores, colegas, amigos. Para eliminar de vez toda a mágoa que eu acabei adquirindo com tudo isso. Agora eu vejo que fui eu quem deixou. Eu que não virei para cada um destes caras que me "zoaram" e dei um belo tapa na fuça. Ou que me defendi. Eu não me defendi porque eu já estava condenada. Já tinha me condenado, muito antes de todos. E paguei um preço gigante por isso.
Não sei ainda se conseguirei essa aceitação de quem eu sou tão fácil. Mas as coisas ficaram bem mais claras agora. Obrigada a Jazmin, a personagem, por me mostrar isso.
Um comentário:
Amei o post. Li todinho, adorei o desfecho.
É isso aí a gente é que tem que mudar a nossa auto-imagem, né?
Bjos!
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